sábado, 22 de maio de 2010

Uma longa história...

Bem,

Ainda ontem, sexta-feira, tentei ligar novamente para o Roger e para o Anderson, mas ´tava difícil... logo após postar esse texto, tentarei novamente. Por outro lado, consegui falar com o pessoal da Nexans, que estão me acompanhando quietinhos. E falei também com o Lia (meu irmão).

Coimbra, a Novela

Na noite que cheguei (sábado) a cidade estava realizando a última noite da festa estudantil, a festa chamada Queima das Fitas. Estudantes vestidos com roupas de gala, com direito a cartola e bengala. No fim tudo vira farra... a cidade amanheceu imunda, cheia de garrafas de cerveja pelo chão.

Acordei tarde no domingo, e achei que iria descansar, minhas roupas, exceto a do corpo estavam todas sujas e eu não poderia lavar na Pousada da Juventude de lá, procurei uma lavanderia. Antes porém, perto da Praça Santa Cruz, parei em um Restaurante Indiano para comprar uma Superbock (Cerveja). Só achei a lavanderia ao lado do Shopping Coimbra, à 5 km de distância, a pé, e com uma trouxa de roupas nas mãos. Para voltar, mais 5 km, uma peregrinação.

A tarde fui tentar conhecer a cidade, conheci tudo, tudo por fora, estava tudo fechado porque era domingo. Ai, ai... esse estranho modo de pensar lusitano... só faltavam os restaurantes fecharem para o almoço.

Procurando um lugar barato para jantar, ali mesmo perto da Praça Santa Cruz novamente, vi um cartaz dizendo Restaurante Italiano. Achei suspeito, pois lá ofereciam um Salmão Grelhado com arroz e batatas por 6,50. Segui as indicações do cartaz e quando vi a fachada, a suspeita aumentou. Fachadinha estranha.
Entrei no restaurante, muito bonito, com grossas mesas de madeira e cadeiras de couro, porém de suspeito o restaurante passou a quase um indiciado. Estava vazio, olhei para o alto procurando uma câmera: achei que fosse uma pegadinha. Ninguém.
Alguns segundos depois, aparece o dono do restaurante, falando italiano, mas com uma cara de indiano... Quase virei as costas e fui embora, mas pensei se eu fosse o dono de um restaurante, numa cidade turística, em pleno domingo e meu único cliente fosse embora eu não iria gostar, assim sendo, fiquei.
Pedi o tal Salmão e começamos a conversar, ele me deu meia garrafa de vinho.
Quando do nada, quem aparece, a menina que me vendeu a cerveja no restaurante indiano... chamando-o: - Papa, papa!
Pronto, para mim ele estaria condenado. Ele percebeu minha cara, e tentou me dizer que seu pai era indiano, sua mãe italiana, que nascera na Calábria, trabalhara... bla, bla, bla...
Ele pode ter me enganado com o tal do restaurante italiano, mas não é que o Salmão tava bom. rsss

Na segunda de manhã, fui visitar tudo que estava fechado. Eu tinha algumas missões especiais, meu ex-professor de Física da oitava série o Luciano Angeluci, vulgo Cabeção, me pediu umas pesquisas sobre um Médico e Físico Português do século XVIII que viveu em Coimbra. Entre essas pesquisas estava uma garrafa da Águas de Inglaterra e um microscópio que ele havia oferecido a Universidade de Coimbra.
Bem, fui em busca da Venda do Colégio, onde vendiam a tal Águas de Inglaterra. O Colégio é hoje, alias há 60 anos a Faculdade de Psicologia...
Então fui até o Museu de Física, já pensando: os museus fecham as segundas. Porém o não já estava garantido. Resumindo... contei a historia e um professor que abriu o Museu de Ciências (onde verdadeiramente estava o microscópio). Assim, entrei naquele enorme e bonito museu vazio, aberto excepcionalmente para uma `missão` científica, o Mestrado da PUC do Cabeção.

Das várias Igrejas de Coimbra, só vi a da Sé Velha, a de Santa Cruz e a de Santiago (a mais interessante e menor).

Voltei correndo ao albergue, hora de zarpar.

Arrumei toda a bagagem e fui sair com a bike, um barulho estranho, pensei que fosse algo com o câmbio, mas não, era a garupa. A garupa, de alumínio, que estava escrito que suportaria 25 quilos, não aguentou 22 kg, ela quebrou.

Bem se quebrou vai ser fácil achar um local para comprar uma outra então fui perguntando aqui e ali e nada e nada de encontrar a tal garupa até que pensei naquele shopping perto da onde eu lavei a roupa deve ter uma Sportzone (a Centauro de lá) e lá fui eu pedalando com parte da bagagem nas costas para não forçar mais a garupa e confesso que pedalar com uma mochila nas costas não é nada fácil. Assim que cheguei no shopping havia uma porta de segurança e a bike não poderia entrar. Então convenci uma mulher a cuidar dela para mim e quando ela disse que eu poderia ir eu fui correndo mas a loja não tinha garupas e não sabiam onde poderia ter um local que vendessem garupas e ao sair do shopping agradeci a mulher e fui procurar alguém de bicicleta e não encontrei, mas nessa busca um rapaz perguntou me de onde vinha e para onde iria e eu falei que vinha de Lisboa e iria a Santiago e ele gostou e me indicou uma loja na zona norte da cidade ou melhor no outro lado da cidade e lá fui eu não vendo a hora de sair daquela cidade e quando cheguei no local havia uma placa indicando o novo endereço que era ao lado do shopping e nesse momento me deu uma dor antecipada na coxa e lá foi eu novamente a cruzar a cidade mas antes eu deixei as bagagens no Bombeiros Voluntários de lá e fui a tal loja e consegui comprar a garupa e voltei ao Bombeiros Voluntários e arrumei a garupa e coloquei a bagagem e joguei os restos mortais da outra garupa fora aproveitando algumas peças que poderiam ser úteis e finalmente ao sair dos Bombeiros a garupa nova entortou.
(escrevi o parágrafo acima quase sem pontuação para vocês cansarem junto comigo, rss)




A garupa nova entortou, e me bateu um desespero e falei: eu desisto, chega, pra mim acabou, vou pegar um trem (comboio), vou até o Porto e lá vejo o que faço. (Após admitir isso, chorei bastante, é duro desistir de um sonho).

Fui a estação e perguntei que horas tinha o próximo comboio e seria dali uma hora, tomei um refri, uma Fanta de Ananás (muito boa) e pensei: vai desistir assim, no primeiro grande obstáculo, vai desistir. Se desistir é porque não era um sonho era uma vontadezinha.
Ai, lenvantei e falei vou voltar para o Albergue e ao sair da estação, falei: que albergue que nada, vou até onde der. Eram 17:30 e naquele dia fiz mais 47 km, além dos 19 que havia feito em Coimbra. Uma novela.

Parei em Águeda e de lá fui ao Porto - 81 km.

No Porto, achei o transito mais estressado que o de São Paulo e haviam muitas pessoas de rua, pedindo dinheiro. Assim, resolvi não sair a noite.
Fiquei no Yellow House (um albergue bom e barato), e comi ali perto mesmo.

No outro dia de manhã, reforcei a garupa nova com as peças da velha e fui a Catedral da Sé pegar o importante Carimbo do Porto.
No Caminho de Santiago os peregrinos são idendificados por uma Vieira (uma concha) e principalmente pela Credencial do Peregrino e nessa credendial, todos os dias pegamos os Carimbos nas igrejas e albergues que ficamos.
Bem, a Catedral abriria às 14:30 e eram meio dia, almocei, e fui ao Estádio do Futebol Clube do Porto, O Dragão. Muito bonito, com hospital, loja do Clube e Shopping, tudo de vidro... acho que no Brasil não daria muito certo.

Peguei o carimbo. Visitei a Ponte sobre o Douro e segui as setas dentro das ruelas da cidade antiga, como(?), empurrando a bike, é impossível subir aquelas ladeiras pedalando.



Ponte D. Luis, construida por Eiffel, sobre o Rio Douro - Porto

Pi-pi-piiiiii... vixi, acabou a bateria da filmadora... parei em um bar e pedi para carregá-la. Uma hora depois sai de lá. Mas antes, lembrei que estava no Porto e que ainda não havia tomada o tão famoso Vinho do Porto, que é um vinho aperitivo, se toma antes ou depois de comer, nunca durante as refeições como os vinhos maduros e verdes.

Do Porto à São Pedro de Rates, 67 km, sendo mais de vinte dentro do Porto.

Em São Pedro de Rates tem uma caprichosa Igreja Românica do século XII. As características dessas igrejas são as seguintes: captel voltado para o leste, pois é de lá que vem a luz; uma porta para o Oeste e outra para o Norte; paredes grossas e janelas pequenas, devido as guerras; e seu teto não é tão alto quanto os tetos das igrejas góticas. Dizem que na época românica o teto era baixo porque eles sentiam Deus mais próximo deles e com o gótico, era o oposto, as altas naves e torres, refletiam a distância entre o que eles sentiam que estavam de Deus.



Sai de São Pedro, com vontade de ir a até Pontes de Lima, mas fiquei muito mau, tive muita febre durante o caminho, fazia 35 graus e a subida era muito íngrime. Cheguei a sentar no meio da rua... sem forças. Tempos depois, um pouco recuperado. Empurrei a bike por mais uns 3 km e achei um oásis um Albergue novo, não catalogado. Ufa, que alívio. Me recuperei e busquei um telefone ou internet e nada. Não havia nada.
Resumindo o dia, conversei com os primeiros peregrinos, um francês, duas irmãs holandesas e até jantei com uma alemã que estava fazendo o caminho a pé, acabou a solidão do caminho... ufa.

Ontem, ao sair de Portela (o oásis), vim até Valença, a última cidade Portuguesa do Caminho, sentirei saudades de Portugal!!!



Ponte de Lima - Portugal

No percurso de ontem passei pelo trecho mais difícil do Caminho a Serra La Bruja. Foram quatro horas para fazer 16 km, mas só na parte mais dura,
foram umas duas horas e meia para fazer 3 km de subida com pedras soltas e raízes expostas.
As garras da bruxa me pegaram, sai com a perna toda arranhada. Falei muitos palavrões nessa subida. Que se no começo eu cantava: Ai... a bruxa vem ai, no final eu estava cantando Ultrage a Rigor: FDPPPPP.
Depois do martírio o paraíso, 6 km de asfalto e downhill, desci cantando. Vi uma placa: Bem-vindo a Fontoura. Assim eu comecei: - B-A, Ba; B-E, Be; B-I otônico Fontoura. Como um mantra fui cantando isso e emendei com uma música do Raul, `Agora eu vou cantar por cantar... Cantar tudo que vier na Cabeça...` e quando estava cantado Tia Anastácia `Acho que alguém aqui pirou e eu ando desconfiado que esse cara sou eu`, eu percebi que haviam três carros esperando o maluco aqui encostar a bike para eles passarem, rsss. Tudo isso a 50 km por hora. Pedalar para mim é isso, maluquisse ou infatilidade, mas é uma Máquina do Tempo, eu volto a ser criança.

Agora estou em um Café em Tui, Espanha, são 12:30 e preciso fazer uns 85 kms ainda hoje para ver se vou a missa amanhã, onde?

Em Santiago de Compostela...

T+

9 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. "Se os obstáculos não fossem necessários Deus não os teria colocado em nossas vidas"
    E com os grandes sonhos vêm tbém os grandes obstáculos, e como tu disse 'se é só uma vontade' a gente desiste, se for seu grande sonho nada vai impedir de se chegar ao fim e aí sim, olhar pra trás, rir de tdo que se passou e ver o qto se é capaz e que qdo não se tem mais força, é lá no meio do coração do teu sonho q tu vai tirar mais força pra continuar.
    Apesar da minha preocupação, depois de ter falado com vc, eu sabia que tu não iria desistir, e que ia deixar todos nós orgulhosos por realizar mais este sonho!

    "A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido. Não na vitória propriamente dita."
    Mahatma Gandhi

    Achei o máximo o Indiano cozinhando 'à italiana', rssss
    Ahhh sua 'loucura' é perdoável,ainda mais se a 'bruxa' estava solta, kkkk, depois de ter passado por tantas, se não ficasse meio ou mais doido, aí sim seria estranho, kkkkk.

    Antecipadamente PARABÉNS, vc conseguiu!!

    Bjs, mande noticias de Santiago!

    ResponderExcluir
  3. Cante, meu Amigo, cante muito, espante as bruxas do seu caminho, pedale como um grande menino sem medo de ser feliz, como insano atrás de um sonho.
    Quanto orgulho acompanhar um sonho realizar-se, aliás, uma realidade!!!
    Sem parar, até o fim...

    ResponderExcluir
  4. Olá, Cléber!

    Sua trajetória já apresenta muitas histórias interessantes e os percalços do caminho vc tem tirado de letra. Que legal! Já o admiro mesmo sem conhecê-lo!
    Vc avançou muito nestes últimos dias e espero que nesta nova fase de sua viagem possa encontrar outros bicigrinos e/ou peregrinos que afastem um pouco sua "solidão", pois não deve ser nada fácil.

    Avante sempre!

    ResponderExcluir
  5. Agora então oficialmente 'PARABENNNSSSSS', com direito aos meus pulinhos de festa, rssss.
    Assim que desliguei com vc, liguei pra mãe, pra contar, recadinho dela então:
    'O danado ja chegou? Diga pra ele que mando parabéns por mais este sonho realizado e é uma pena que não vou poder dar um abraço nele...'
    O resto te conto depois, :)
    Agora descanse, vc ja VENCEU!!!

    bjssssss

    ResponderExcluir
  6. Acompanho tudo por aqui.As vezes chego a pensar que essa aventura é meio insana,mas chego a conclusão de que você é um homem muito corajoso.Parabéns!!!O que vale é conhecimento,é o aprendizado,é o sonho realizado,é o que você adquiriu de bom,e isso ninguém vai tirar de você.É seu.SAUDADES!!!bjão grande.

    ResponderExcluir
  7. Eae tio força no pedal,eu ea mãe acompanhamos oq vc escreve no seu blog diréto as fotos q vc tira eo q vc escreve muito daora, força ai tio quero mais fotos. Xau

    ResponderExcluir
  8. iai pai blz esta chegando a ora de vc chegar estou esperando,estou com saudade.


    MAteus!!!

    ResponderExcluir
  9. Oii kk
    nossa eu pesquisando aqui na net achei você poxa, a internet ultimamente esta tão pequena.
    (Sou a luna do Luciano que você encontrou na casa dele um dia desses...)

    ResponderExcluir